A OBRA DE ARTE E O PENSAMENTO POÉTICO-ORIGINÁRIO
FERRAZ, Antônio
Máximo
Professor Doutor da
Universidade Federal do Pará
Coordenador do
Núcleo Interdisciplinar Kairós (NIK/UFPA)
E-mail:
profmaximoferraz@gmail.com
A visão
predominante a respeito da arte é a de que ela tem origem na
mundivisão do artista, realizando a representação dos contextos
históricos de uma dada época. Tal percepção da arte a toma como
mímesis, compreendida como imitação de algo a ela anterior.
Este modo de encará-la não lhe concede seu vigor criador, pois é
vista como cópia do que tem existência prévia, e não como a
irrupção do que ainda não existe. A tradição mimética, que toma
a arte como imitação, decorre da conceituação usual da verdade,
habitualmente entendida como a adequação entre o juízo que se
formula sobre as coisas e as próprias coisas (veritas est
adaequatio rei et intellectus). O pensamento é tido como
representação de pressupostos teóricos que embasariam o juízo
verdadeiro. A arte, nesse diapasão, costuma ser vista como o
ficcional, o contrário do real e da verdade. Procurando contornar os
ditames da tradição mimética, a comunicação resgata a referência
ontológica entre a arte e a verdade, esta concebida não como
adequação, mas como o desvelamento (alétheia) de questões.
Mostraremos que a obra articula o pensamento poético, cuja fonte é
a ação originária do desvelamento da realidade, de modo a
reconhecer que a arte não é mera imitação. Ao contrário, ela põe
a verdade em obra, instaura a sua própria teoria e funda a sua
própria época. As comunicações que integram a mesa-coordenada
estabelecem, de modo original, o diálogo com diferentes obras e
questões, mantendo-se, no entanto, enraizadas no pensamento
poético-originário proposto pela arte.
PALAVRAS-CHAVE:
Arte, Pensamento, Verdade, Mímesis, Teoria.
A
PERSONAGEM COMO MISTÉRIO INAUGURAL: QUEM É MACABÉA?
RIBEIRO,
Merissa Ferreira
Orientador:
FERRAZ, Antônio Máximo (UFPA)
Licencianda
em Letras da Universidade Federal do Pará
Membro
do Núcleo Interdisciplinar Kairós (NIK/UFPA)
E-mail:
merissafribeiro@gmail.com
É
comum a noção de que apenas por meio da descrição das personagens
apresentadas em uma obra é possível desvendar o mistério que elas
manifestam. Quando nos deparamos com a personagem Macabéa, do
romance A
hora da estrela,
de Clarice Lispector, percebe-se que seu significado não se esgota
em atributos. Sabemos, através do narrador Rodrigo S.M., que ela é
uma imigrante nordestina, virgem, sem estudo, ingênua, solitária,
obediente, datilógrafa, e que acredita em tudo o que escuta na Rádio
Relógio. Como diz Clarice, “ela era capim”. Essa é Macabéa?
Por um lado, sim, mas ela não se resume a isso. Sabemos de Macabéa
e podemos até nos reconhecer na personagem, mas ainda sim não a
conhecemos, no sentido de poder defini-la. E somente com a escuta da
questão de quem ela é poderemos ter a pretensão não de desvendar
esse mistério (porque deixaria de sê-lo), mas de dele participar,
compreendendo-nos a nós próprios como questões que, como tais, não
podem ser definidas, apenas percorridas. A questão de quem é
Macabéa em verdade se converte, na obra, na própria questão do que
é o humano, sempre um mistério inaugural. A presente comunicação
pretende sondar, em diálogo com a interpretação da personagem,
como é figurada no romance a questão do que é o homem, que vigora
no silêncio da obra.
PALAVRAS-CHAVE:
Personagem, Silêncio, Mistério, Obra, Questão.
QUESTÃO DO SER
EM UMA APRENDIZAGEM OU O LIVRO DOS PRAZERES,
DE CLARICE
LISPECTOR
CARMO, Daysi de
Fátima
CASTILHO, Ana Carla
Costa
Orientador: FERRAZ,
Antonio Máximo (UFPA)
Licenciandas
em Letras da Universidade Federal do Pará
Membros
do Núcleo Interdisciplinar Kairós (NIK/UFPA)
E-mails:
isyalbu@hotmail.com e carlacostacastilho@gmail.com
Uma aprendizagem
ou o livro dos prazeres, romance de Clarice Lispector publicado
em 1969, narra o envolvimento amoroso entre Lori e Ulisses. Lori é
uma professora do primário levava uma vida miserável, solitária e
vazia, sem questionamentos sobre a existência. Ao se apaixonar por
Ulisses, um professor de filosofia, aprende a silenciar para escutar
o que ela é. Esse processo de aprendizagem, que a leva ter
consciência de si mesma e da vida, é um processo que também a
conduzirá ao amor e ao amar, pois somente após se perceber é que
ela poderá se entregar a outro ser, Ulisses. A hermenêutica do
romance de Clarice se fará em diálogo com a obra Arte: o humano
e o destino, de Manoel Antônio de Castro, que articula a
educação poética como caminho para o homem manifestar-se como
questão. A educação poética é aquela que, procurando superar a
trama conceitual que recobre as coisas, converte-as novamente em
questões, convidando o homem à procura de seu modo próprio de ser.
Mostraremos que a questão do ser, se percorrida, promove a
realização do amor, não só entre dois seres, mas entre a obra e o
intérprete. Na pesquisa aqui proposta, verifica-se que a questão do
amor se funda no acontecer do sentido do ser. Faz-se necessário,
assim, abrir-se para a escuta de seu sentido, assim como Lori. Este é
o caminho para se ir ao encontro do que verdadeiramente somos, pois é
somente no vigor do questionamento que podemos alcançar nossa
plenitude e transcendência.
PALAVRAS-CHAVE:
Ser, Silêncio, Amar, Manoel de Castro, Clarice Lispector.
O CANTO E A
VERDADE DO CORPO:
REFLEXÕES SOBRE
A EDUCAÇÃO POÉTICO-MUSICAL
LEAL, Ana Cecília
de Luna
Orientadores:
FERRAZ, Antônio Máximo (UFPA) & FERREIRA, Eliane (UEPA)
Concluinte de
Licenciatura Plena em Música pela Universidade Estadual do Pará
Membro do Núcleo
Interdisciplinar Kairós (NIK/UFPA)
E-mail:
cissadeluna@gmail.com
O
maior desafio de um educador musical é promover os caminhos que
permitam ao aluno manifestar seu potencial artístico. Nosso tempo é
o da
construção técnico-científica da realidade, que se encontra
fragmentada e compartimentalizada em diferentes disciplinas. Neste
contexto, o canto é ensinado como técnicas que devem ser
introjetadas pelo aluno e o corpo é tratado como um objeto sobre o
qual devem incidir essas técnicas. Tal modelo educacional impede a
música de acessar a memória emocional e corporal do aluno,
despotencializando o canto e o corpo em sua verdade. A arte deixa de
ser um caminho para o desvelamento do ser, deteriorando-se em mera
excelência técnico-performática. A
presente comunicação visa a restituir o canto e o corpo a questões
que se convertem em obra de arte. Esta é o acontecer da verdade em
sentido manifestativo (alétheia)
do
poema singular que é cada existência. Assim, o educador pro-cura
libertar no aluno o canto e o corpo dos ditames conceituais,
promovendo a educação como desvelo, cura. Esse
trabalho está estruturado em três partes. Na primeira, mostraremos
como se dá a educação musical em nossa época, fragmentada e
cartesiana, que reduz o canto à técnica e o corpo a objeto. Na
segunda,
dialogaremos com a interpretação
da hermenêutica
filosófica e exporemos métodos alternativos da educação somática,
entendendo
o corpo como uma totalidade indissociável do campo emocional. Por
fim,
verificaremos
as possibilidades de integração da educação somática
à
educação musical, mostrando que o canto manifesta a verdade do
corpo.
PALAVRAS-CHAVE:
Canto, Corpo, Verdade, Poética, Educação Musical.
À
MARGEM, A MARGEM:
O
APOKÁLYPSIS
DOS ELEMENTOS ORIGINÁRIOS EM MURILO MENDES
PINHO,
Maria Madalena Felinto
Orientador:
FERRAZ, Antônio Máximo (UFPA)
Mestranda
em Estudos Literários da Universidade Federal do Pará
Membro
do Núcleo Interdisciplinar Kairós (NIK/UFPA)
E-mail: mariamadalenaflnt@gmail.com
A palavra apocalipse vem do grego αποκάλυψις (apokálypsis), e é formada pelo prefixo apó, que dá traduz a ideia de “retirar”, e kalumna, véu. Significa, portanto, a retirada dos véus, a revelação. Na esfera da religiosidade o apocalipse se dá por meio da revelação divina das coisas até então ocultas aos eleitos de um ser sagrado. Murilo Mendes, notadamente nas produções poéticas nas quais a recriação do mundo se dá por meio de seus aspectos visíveis e invisíveis, retoma o mito da ordenação do cosmos através dos quatro elementos originários de Empédocles de Agrigento (aproximadamente 495 – 435 a.C.) O autor mineiro realiza um religare recuado no tempo e no espaço, retomando os elementos orgânicos e físicos que animam o cosmos. Uma poesia religiosa? A conversão ao catolicismo parece ser um dado inevitável na biografia de Murilo Mendes. Entretanto, o livro de poemas Os Quatro Elementos (1935), muito embora seja permeado pelas convicções da nova opção religiosa, em parte subverte as concepções escatológicas tradicionais do cristianismo, a respeito do princípio e do destino final (éskhatos) do desenrolar do mundo. Se no livro bíblico os elementos primordiais participam da ordenação cósmica por ordem divina de um Ser Supremo, no apocalipse proposto por Murilo Mendes os elementos serão retomados para constatar o “ordenamento desordenado” que subjaz à criação do mundo, a ordem invisível que subjaz à realidade. Nessa nova ordem cosmológica, que mostraremos na comunicação proposta, criar é ultrapassar os elementos que formam o visível para chegar aos primordiais. Assim, no final, o mundo conhecerá novamente seu caos originário.
PALAVRAS-CHAVE:
Apokálypsis,
Revelação, Poesia, Elementos Primordiais, Caos.
PENSAMENTO E
SILÊNCIO NA POESIA DE MAX MARTINS
BARBOSA, Thiago de
Melo
Orientador: FERRAZ,
Antônio Máximo (UFPA)
Mestrando em Estudos
Literários da Universidade Federal do Pará
Membro do Núcleo
Interdisciplinar Kairós (NIK/UFPA)
E-mail:
thiagomelob@hotmail.com
O
embate entre filosofia e poesia data de séculos, remonta aos gregos
– lembra Platão e sua República
–,
passa pela Idade Média, Renascimento e chega à Idade Moderna
transmutado: o que era filosofia, passa a ser Ciência, e a poesia,
tornou-se Literatura. Na nossa atual conjuntura, com o gigantesco
avanço da técnica, este embate milenar parece correr o risco
desaparecer, pois, num mundo técnico-cientificamente guiado, não há
espaço — ou pelo menos tende-se a crer que não haja — para
outro tipo de pensamento que não aquele das verdades conceituais e
dos resultados práticos. Refletindo sobre isso, esta comunicação
propõe a escuta da questão
do silêncio por meio de um caminhar pelo “pensamento poético”
que acontece nos poemas de Max Martins. Para tanto, parte,
principalmente, do pensamento filosófico de Martin Heidegger e,
assim, encara o silêncio como a essência da linguagem, logo, como
ponto incontornável para a travessia pela questão do Ser.
Pretende-se, deste modo, uma retomada do diálogo entre pensamento e
poesia, relegitimando sua importância para o homem enquanto ser
“questionante”, i.e, que busca a verdade originária, e não
simplesmente aceita e reproduz “verdades” pré-fabricadas.
PALAVRAS-CHAVE:
Filosofia, Poesia, Técnica, Silêncio, Max Martins.
AVALOVARA,
DE OSMAN LINS:
REALIZAÇÃO E
NARRATIVA
DOLZANE, Harley
Farias
Orientador: FERRAZ,
Antônio Máximo (UFPA)
Mestrando em Estudos
Literários da Universidade Federal do Pará
Membro do Núcleo
Interdisciplinar Kairós (NIK/UFPA)
E-mail:
hfdolzane@gmail.com
Avalovara (1973),
de Osman Lins, realiza-se na referência essencial entre arte e
verdade (alétheia) questionando a tradição mimética
baseada na concepção de arte como cópia da realidade. No vigor da
verdade manifestativa (Alétheia), o romance retoma o sentido
originário do real (physis), da narrativa e da ficção em
constante aceno ao não-saber, ao vazio criativo que constitui
propriamente o vigor da literatura. Pelo figurar-se, pelo fazer-se e
ser com a verdade a rede de sentido que se desdobra da tessitura de
Avalovara evoca e convida a rede de sentidos que é o ser
humano a se realizar na obra da mesma maneira que a obra se realiza
no humano, em verdadeira co-labor-ação. Deste modo, podemos dizer
que a realização de Avalovara, narrativa que se faz na
imagem de um pássaro e na temática da procura existencial, é a
literatura que se lança em voo no aberto, se oferta ao vazio e
insufla-nos à inominada procura pela configuração da narrativa do
humano que cada um é.
PALAVRAS-CHAVE:
Avalovara,
Narrativa, Realização, Verdade (Alétheia).
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