A XVIII Semana Acadêmica de Letras da UFPA realizou-se em outubro de 2010. o NIK-UFPA marcou presença responsabilizando-se por uma Sessão Temática sobre a obra de Osman Lins. A Sessão surgiu a partir do desenvolvimento do Projeto de Pesquisa O trágico na modernidade literária brasileira. Durante as apresentações os pesquisadores puderam amaduracer seus trabalhos dando-lhes visibilidade e reforçando, com isso, o diálogo profícuo com a comunidade acadêmica da UFPA.
A seguir, o resumo da Sessao Temática, bem como o dos trabalhos apresentados:
SESSÃO TEMÁTICA
PERCURSOS EM TORNO DA POÉTICA DE
OSMAN LINS
Proponente:
Prof. Dr. Antônio Máximo Ferraz, Faculdade de Letras da UFPA
A Sessão Temática proposta é constituída
de duas Mesas, com três comunicações cada, que percorrem, em especial, a
poética de duas obras de Osman Lins (1924 – 1978): Nove, Novena e Avalovara.
As comunicações apresentam estudos empreendidos pelo Núcleo Interdisciplinar
Kairós – Pensamento da Arte e da Linguagem (NIK/UFPA), no âmbito do projeto de
pesquisa “O trágico na modernidade literária brasileira”. Coordenado pelo
proponente. O grupo de estudos, cadastrado no CPNq e ligado institucionalmente
à UFPA, tem se debruçado sobre as questões suscitadas por textos escolhidos da
modernidade literária brasileira.
Cada Mesa está agrupada em um eixo. O
primeiro eixo reflete sobre a questão do Tempo e o modo como ele é figurado na
modernidade literária. O segundo reúne estudos que associam a estrutura
narrativa ao modo como as questões são elaboradas pelas obras interpretadas. As
comunicações se inserem na área dos Estudos Literários, e o proponente será o
mediador das duas Mesas.
O que se espera com a realização das
comunicações é fomentar o pensamento em torno da obra de Osman Lins, um dos
maiores autores da literatura brasileira de todos os tempos, contribuindo para
a divulgação e pesquisa do autor em nossa região.
Palavras-chave:
Osman Lins. Modernidade literária. Poética da narrativa.
MESA 1: A FIGURAÇÃO DO TEMPO
Comunicação 1: Mariana
Brasil Hass Gonçalves;
Comunicação 2:
Andréa
Gabrielly Araújo Cardoso e Décio Jorge dos Reis Santos;
Comunicação 3: Mayara Lopes La-Rocque.
MESA 2: A CONSTRUÇÃO DA NARRATIVA
Comunicação 1: Thaís de Nazaré Sarmento da Silva;
Comunicação 2: Édne Wagner
Ribeiro Maués;
Comunicação 3: Harley Farias
Dolzane.
A Sessão Temática terá o roteiro a
seguir: 10 minutos para a abertura da Sessão pelo mediador; 1 hora para a
primeira Mesa (20 minutos cada comunicação); 10 minutos para debates; 15
minutos de intervalo; 1 hora para a segunda Mesa (20 minutos cada comunicação);
e 10 minutos para debates. A Sessão Temática totaliza, assim, 2 horas e 45
minutos.
MESA 1: A FIGURAÇÃO DO TEMPO
O
TEMPO COMO ELEMENTO TRÁGICO
NO
ROMANCE DA MODERNIDADE LITERÁRIA BRASILEIRA
Mariana Brasil Hass GONÇALVES
Curso de Filosofia / UFPA
Licenciada em Letras- Língua Portuguesa
/ UEPA
Pesquisadora do Núcleo Interdisciplinar Kairós – Pensamento
da Arte e da Linguagem
Pesquisadora do CUMA (Culturas e Memórias Amazônicas)
Orientador:
Profº Drº Antônio Máximo Ferraz
Na trajetória da humanidade, o Tempo
foi instaurado como um modo de representar a sucessão de acontecimentos ou
percepções humanas em passado, presente e futuro. Segundo Heidegger, esse
perspectiva surge de uma necessidade de temporalizar
a existência humana, fenômeno que não é puramente natural. O Tempo,
portanto, apresenta-se como uma questão (filosófica) norteadora da realidade,
incidindo sobre o Ser histórico e individual. Nas narrativas mais tradicionais,
a duração temporal organiza-se linearmente em medidas temporais objetivas, a
partir de um princípio de causalidade determinado por meio da regularidade de
eventos naturais perceptíveis à observação do homem. O caráter linear das
narrativas esteve condicionado pela noção de verossimilhança entre as vivências interiores e exteriores do
homem e da sociedade, como forma de configurar uma representação do Real.
Diferentemente, as narrativas modernas são assim denominadas pois nestas o Real
é questionado por meio da estrutura narrativa. Isto é, o Tempo não ecoa apenas
como temática, mas, sobretudo, como manifestação do Real desvelado na
linguagem. Esse caráter está presente na literatura brasileira em obras como Memórias Póstumas de Brás Cubas, Grande Sertão: Veredas, Avalovara, Lavoura
Arcaica, entre outras, que incorporam o tempo como elemento trágico,
entendido não apenas no sentido do catastrófico, mas, sobretudo, sob seu
aspecto criativo e ontológico na manifestação do real e de sua ambigüidade poética:
o homem no tempo e o tempo do homem.
Palavras-chave:
Tempo. Trágico. Romance Brasileiro.
A CONSTRUÇÃO DO TEMPO NO “RETÁBULO DE SANTA JOANA CAROLINA”,
DE OSMAN LINS
Andréa Gabrielly Araújo CARDOSO
Pedagoga pela UFPA
Curso de Letras Habilitação em Língua Portuguesa / UFPA
Pesquisadora do Núcleo Interdisciplinar Kairós – Pensamento
da Arte e da Linguagem
Décio Jorge dos Reis SANTOS
Curso de Letras Habilitação em Língua Portuguesa / UFPA
Orientador: Prof. Dr. Antônio Máximo Ferraz
A comunicação
que se fará versa sobre o “Retábulo de Santa Joana Carolina”, que integra o
livro Nove, Novena, de Osman Lins.
Tal narrativa é construída como um retábulo, forma pictórica ou escultórica, em
pedra ou madeira esculpida, que se coloca na parte posterior do altar, trazendo
imagens que contam a vida dos santos. Joana Carolina, a protagonista, tem a sua
vida contada, do nascimento à morte, em Doze Mistérios. Em cada mistério há um
acontecimento marcante da vida da protagonista, e as estratégias narrativas conduzem
à sacralização da personagem. Assim como na forma artística do retábulo, os
eventos narrados não obedecem a uma linearidade. Eles são apresentados de modo
simultâneo, fundindo passado, presente e futuro. O objetivo desta comunicação é
percorrer a questão do tempo, verificando como ele é elaborado na narrativa, e
como ele faz aparecer aos olhos do leitor um universo sacralizado.
Palavras-chaves: Sagrado.
Tempo. Narrativa.
PERDIDOS E ACHADOS: OS CAMINHOS DA
NARRATIVA EM OSMAN LINS
Mayara Lopes LA-ROCQUE
Curso de Letras Habilitação em Língua Francesa / UFPA
Pesquisadora do Núcleo Interdisciplinar Kairós – Pensamento
da Arte e da Linguagem
Orientador: Profº Drº Antônio
Máximo Ferraz
A
obra literária é, em sua essência, um ser dotado de vida própria e dinamicidade
autônoma, jamais pode ser aceita como mero objeto que o sujeito manipula e
analisa. O objetivo dessa comunicação é propor um diálogo acerca da narrativa
“Perdidos e Achados”, que integra o livro Nove, Novena, de Osman Lins,
entre-abrindo caminhos para escuta da Linguagem que subsiste no texto em suas
infinitas formas de manifestação do Real. Isto é possível perceber no próprio
processo de construção da narrativa,
permeada pelas Questões do Tempo, da Morte e da Vida como Ações Originárias que
excedem o homem na experiência de suas perdas e buscas. A trama se origina em
uma Voz que fala diante da imensidão dos desígnios do Céu, da Terra e da
Presença do Mar, discorrendo sobre as transformações geológicas das Eras. Tais
transformações intercalam-se na vivência de um pai, que por descuido ou
distração, perde de vista, na praia, o seu filho, e assim se lança à pro-cura.
Nesse processo interferem outras vozes, outros personagens identificados por
símbolos, que narram suas próprias realidades de perdas e buscas, enquanto
assistem ao desespero desse pai. O que esses personagens pro-curam em meio ao
vazio da ausência e a evocação constante da presença é o próprio
centro de aflição do Ser; é o ponto propulsor criativo do percurso que o homem trilha dos caminhos elípticos da
narrativa
aos caminhos concêntricos de si mesmo.
Palavras
Chaves:
Linguagem. Procura. Homem.
MESA 2: A
CONSTRUÇÃO DA NARRATIVA
A EVOCAÇÃO DE
EROS EM “OS CONFUNDIDOS”, DE OSMAN LINS
Thaís de Nazaré Sarmento da SILVA
Curso de Letras Habilitação em Língua Inglesa / UFPA
Pesquisadora do Núcleo Interdisciplinar Kairós – Pensamento
da Arte e da Linguagem
Bolsista de Monitoria / PROEG
Orientador: Prof. Dr. Antônio Máximo Ferraz
A
partir da narrativa “Os confundidos”, que integra a obra “Nove, Novena” (1966),
de Osman Lins, investigamos o Amor como uma questão que em nós se destina e que
é possibilidade de construção mesma da existência humana. Ressaltamos,
entretanto, que como questão autêntica que é não poderá ser resolvida, mas
percorrida em seu sentido. Empreenderemos um diálogo com o “O Banquete”, de
Platão, especialmente aludindo ao Mito do Andrógino e ao Eros mencionado na
fala de Sócrates. A narrativa de Osman Lins remete-nos à experiência amorosa
entre um homem e uma mulher que convivem há cerca de oito anos e vivenciam a
perda de suas identidades dentro de um relacionamento mediado pela mutualidade
dos sentimentos de insegurança, desconfiança e ciúme. Ambos estão sufocados
pelos desejos de posse sobre o outro e pela dependência afetiva. O mal-estar é
latente, porém eles permanecem numa união que obsta a busca por si próprios e
pelo outro. A obra não se limita a falar da confusão de identidades entre os
personagens: tal confusão, que dá nome ao título, é levada para o próprio plano
da construção da narrativa. Valendo-se de recursos composicionais, o leitor é
inserido na experiência concreta da troca e da perda de identidades dos
personagens.
Palavras-chave: Eros. Identidade. Construção da
narrativa.
AVALOVARA: ENCONTROS, PERCURSOS,
REVELAÇÕES
Édne
Wagner Ribeiro MAUÉS
Curso
de Licenciatura em Letras – Língua Portuguesa / UEPA
Pesquisador do Núcleo Interdisciplinar Kairós – Pensamento
da Arte e da Linguagem
Pesquisador do CUMA (Culturas e Memórias Amazônicas)
Orientador: Prof. Dr. Antônio Máximo Ferraz
Esta
proposta se insere nos estudos do “Núcleo Interdisciplinar Kairós – pensamento
da arte e da linguagem” sobre a obra Avalovara
de Osman Lins (1973), com o interesse de expor o pensamento osmaniano sobre a
linguagem e a apresentação da pesquisa sobre criação literária deste autor.
Entender os aspectos formais de que Osman Lins se utiliza para gerar seu objeto
estético é compreender toda uma forma de pensamento que impregnou os artistas
do século XX, em especial os romancistas, com o que hoje se costuma designar
“Romance moderno”. A “consciência moderna” se caracteriza pela preocupação com
a complexidade de sua própria forma, com o desejo de libertar o romance de suas
limitações anteriores, e com a representação de estados íntimos de consciência.
Osman Lins reconhece o problema capital do escritor de ser a ficção o meio sempre renovado e sempre inadequado de que
dispõe o artista para sua criação. Por isso, entender/amar a linguagem,
trabalhar o texto e propor uma nova forma de construção é, em Avalovara, uma
maneira inovadora e moderna de interpretar o real. Para que isto percebamos,
interpretaremos o capítulo “A espiral e o quadrado”, do citado romance, que
revela, de maneira exemplar, a consciência moderna na criação estética.
Palavras – chave: Linguagem. Criação. Avalovara.
AVALOVARA: O
HOMEM E A OBRA DE ARTE
Harley Farias DOLZANE
Curso de Letras Habilitação em Língua Inglesa / UFPA
Advogado formado pela UNAMA
Pesquisador do Núcleo Interdisciplinar Kairós – Pensamento
da Arte e da Linguagem
Bolsista PIBIC/FAPESPA
Orientador: Prof. Dr. Antônio Máximo Ferraz
Este estudo objetiva interpretar Avalovara de Osman Lins, obra
constituída do entrelaçamento de oito diferentes narrativas, estruturadas a
partir de três elementos: o palíndromo latino, um quadrado subdividido em
quadrados menores que comportam, cada qual, uma letra do palíndromo, e uma
espiral inscrita sobre o quadrado maior, de modo que, sua linha, atravessando
cada quadrado menor, a intervalos regulares, é o que determina o
desenvolvimento da narrativa. Na interpretação articula-se a questão do trágico
como dinâmica de velamento do real que se dirige ao homem para a construção de
sentido, que se destina no homem como Linguagem, ou seja, o silêncio que
demanda a realização não só do texto literário, mas também do texto de sua
própria existência. Neste sentido, para o protagonista Abel – um escritor em
torno do qual giram as várias narrativas – esta mesma questão revela-se na
busca pela plenitude criativa em seu fazer literário. Da mesma forma, a partir
das reflexões sobre o fazer literário trazem à tona a tragicidade, em um
constante jogo entre o Destino e a Liberdade, o Espaço e o Tempo, o Limite
quadrático e o Ilimitado espiralar. O trágico também surge no desempenho de cada
personagem da obra, vez que estão todos lançados numa travessia de autoprocura
que lhes solicita uma constante (re)elaboração criativa da existência como a
própria possibilidade de realização do humano. Portanto, é possível estabelecer
uma correlação entre o homem e a obra literária, de modo a dizer que ambos são
ficcionais: seus sentidos são construídos na Linguagem, num diálogo entre
diversas narrativas que se entrecruzam para constituir o tecido da existência.
O Homem, a Obra de Arte: Textos constituídos de vários outros textos, como o
pássaro imaginário que se constitui de outros pequenos pássaros e cujo nome,
não à toa, é o próprio título do livro.
Palavras-chave: Trágico. Existência. Obra de Arte.
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