Breves 2010 (II)

Por ocasião do IV ECLEB (Encontro dos Estudantes de Letras em Breves) em 2010, o coordenador do NIK-UFPA, ministrou palestra na busca por uma noção originária de termo "Interdisciplinaridade", bastante em voga nos meios acadêmicos e que caracteriza nosso próprio grupo de estudos (afinal o "Núcleo" é "Interdisciplinar"). A seguir o resumo da palestra:



PALESTRA:
O REAL, O HOMEM E A INTERDISCIPLINARIDADE


FERRAZ, Antônio Máximo
(Prof. Adjunto da Faculdade de Letras da UFPA)


Um dos grandes desafios de nossa época é o exercício da interdisciplinaridade. Sob domínio da ciência e da técnica, o real sofreu enorme fragmentação. Cada ciência, com seu respectivo corpus conceitual aglutinado em uma diferente disciplina, se dirige a um setor do real, e com isso se perde a visão da totalidade das coisas. O homem, no entanto, é aquele ente a quem se dirige a questão do que é o real em sua totalidade. Por isso, quando fragmenta o real, é o próprio homem quem termina por se fragmentar. Se a interdisciplinaridade é o caminho para que o homem reencontre sua vinculação com o real em sua totalidade, é preciso perguntar: o que é o real? O que é o homem? E o que é a interdisciplinaridade, capaz de reestabelecer os vínculos que parecem ter se perdido?

O que é o real e o que é o homem são questões que, como tais, jamais se esgotam nos conceitos de uma disciplina. Uma questão é aquela dimensão do real que, por mais que tentemos apreender em conceitos, jamais cessa de nos interrogar. O homem está sempre lançado entre a questão e o conceito, pois nenhuma resposta que dê a uma questão é capaz de defini-la. Sua morada é entre a questão e o conceito, e esse entre é o inter da interdisciplinaridade.

A interdisciplinaridade não é, portanto, algo que dependa da vontade do homem praticar ou não: ele, para ser homem, já é, desde sempre, interdisciplinar. A interdisciplinaridade diz respeito ao modo do homem se realizar enquanto tal: não em face do real, objetivando-o com um corpus conceitual e disciplinar, como quer a ciência, mas dentro do real em sua ambiguidade de estar sempre sendo no fluxo do tempo, e é isto o que quer dizer metafísica em um sentido originário: metá (entre) physis (o real em sua totalidade). Pensar a interdisciplinaridade é, portanto, reconduzir o homem ao lugar em que ele desde sempre já está, reestabelecendo sua vinculação originária com o real.

Um efetivo exercício da interdisciplinaridade tem, assim, uma dimensão metafísica, e é por isso que ela é mais do que a mera justaposição de disciplinas, tal qual habitualmente é concebida. Para que ela efetivamente ocorra, faz-se necessário reconduzir o pensamento do âmbito dos conceitos que embasam as disciplinas para a esfera originária das questões. Tendo tal tarefa em vista, faremos um percurso em torno de questões que, de modo circular, se acham entrelaçadas com a interdisciplinaridade, tais como o que é a arte, a linguagem e o sagrado. Pretendemos, ao pensar o entrelaçamento dessas dimensões da realização humana, recuperar a meditação em torno do lugar que o homem ocupa dentro da economia do real, de modo a superar a fragmentação a que ele, em nossa época, se acha exposto.

Palavras-chave: Interdisciplinaridade. Metafísica. Arte. Linguagem. Sagrado.

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