Epel - 2011

O NIK-UFPA esteve presente ao IV Epel que ocorreu na cidade Bragança em Fevereiro de 2011. A seguir os resumos dos trabalhos apresentados:



COMUNICAÇÃO 1


O VOO DA CRIAÇÃO LITERARIA:
A TESSITURA DOS ELEMENTOS DA NARRATIVA EM AVALOVARA, DE OSMAN LINS.

Harley Farias DOLZANE (UFPA)[1]

RESUMO

            A pesquisa busca uma abertura para compreender o sentido da obra literária imbricada no mistério da criação artística. Para tanto, pretende verificar e interpretar a maneira específica da tessitura dos elementos da narrativa em Avalovara (1973) de Osman Lins, a fim de percorrer questões fundamentais que subjazem no revestimento conceitual instaurado ao longo da modernidade literária. Em Avalovara, o leitor é encaminhado a um pensamento originário que resgata a instância poética da prosa, projetando o fazer artístico em uma dimensão mítica que é linguagem acontecendo em seu silêncio. Dá-se uma “desnaturalização” da narrativa a partir da construção que o romance faz do Narrador, Tempo, Espaço, Enredo e Personagens, revelados como questões. Neste re-velar, o tecido da obra vai se estruturando a cada leitura como que propondo a todo instante, na costura de cada palavra, na pintura de cada imagem, a indagação sobre o que é o Homem, o que é o Tempo, o que é o Espaço, qual a Ação que lhes anima. Com isso, o romance acaba por indagar o leitor sobre que homem ele é, a que tempo/espaço pertence, e que ação lhe anima. No vigor desse questionamento é que se insere não só o poder criativo da literatura, mas também da própria existência humana, possibilitando a experiência concreta de vôos para além das amarras conceituais e abstrações de cada época.

Palavras-chave: Linguagem. Hermenêutica. Criação literária. Elementos da narrativa. Osman Lins.





COMUNICAÇÃO 2


OS ELEMENTOS DA NARRATIVA
NO “RETÁBULO DE SANTA JOANA CAROLINA”, DE OSMAN LINS

Andréa Gabrielly Araújo CARDOSO (UFPA)[2]

RESUMO
A comunicação que se fará versa sobre o “Retábulo de Santa Joana Carolina”, que integra o livro Nove, Novena, de Osman Lins. Tal narrativa é construída como um retábulo, forma pictórica ou escultórica, em pedra ou madeira esculpida, que se coloca na parte posterior do altar, trazendo imagens que contam a vida dos santos.
Joana Carolina, a protagonista, tem a sua vida apresentada, do nascimento à morte, em doze Mistérios. Em cada um deles, há um acontecimento marcante, que evidencia a trajetória exemplar da personagem.
Assim como na forma artística do retábulo, os eventos narrados não obedecem a uma linearidade. Eles são apresentados de modo simultâneo, fundindo passado, presente e futuro. O objetivo desta comunicação é percorrer os elementos que compõem a narrativa, verificando a forma diferenciada com que são construídas no texto.

Palavras-chaves: Retábulo. Mistérios. Misticismo. Santa. Tempo.



COMUNICAÇÃO 3


“NOIVADO”, DE OSMAN LINS:
REFLEXÕES SOBRE O SER-PARA-SI E O OUTRO NA DINÂMICA DO TEMPO

Thaís de Nazaré Sarmento da SILVA (UFPA)[3]

RESUMO

              A narrativa “Noivado”, de Osman Lins, integrante da obra Nove, Novena (1966), evoca o pensamento sobre a questão da liberdade existencial a que somos dispostos. A liberdade para construção do nosso percurso existencial é a própria condição de nossa existencialidade. A busca de sentido para o real que nos dispõe é a abertura poética para o mundo. A poética de Osman Lins, nessa narrativa, incita-nos a pensar o ser-no-mundo que é o homem, em busca da realização existencial, da realização do sentido das coisas, projetos, ações, pensamentos. Realizações que por ora escolhe e às quais valoriza, fazendo, assim, o seu destino, no decurso do tempo, sem, contudo, estar isento dos enganos, sobre as coisas e sobre si mesmo. Ao perceber o engano, é possível mudar, se o homem puder se permitir essa mudança – é possível compreender que o real está sendo e que o homem está sendo também, e é do próprio homem a responsabilidade pelo que faz de si mesmo.
             A narrativa traz a estória de Mendonça e de Giselda, personagens que constituem um noivado de 28 anos, mas que têm suas vidas separadas pelas escolhas que fizeram nesse percurso. A busca de ser o que se é – no caso de Mendonça, a sua vida, profissional, social, afetiva – foi uma escolha pela plenitude no isolamento, ensimesmando-se nas veredas do tempo e negando-se a compartilhar suas experiências e sentidos com o outro, fossem os amigos do trabalho ou um relacionamento amoroso que pudesse fecundar sua vida, preenchendo-a de sentido, como acontece com aqueles que se deixam acolher pelas relações amorosas salutares, nas quais Eros purifica a alma. Giselda também tem que escolher por si, cuidar de si, porém seu olhar está voltado à Mendonça e não a si mesma. O “noivado” entre os personagens pode ser lido como metáfora de um noivado do próprio homem com seu destino, como um espaço de tempo no qual buscamos nos fazer a nós mesmos. Tempo de plantar.
            O empenho dessa comunicação será o de propor o diálogo entre a narrativa “Noivado” – no que tange às questões da liberdade e da consciência do outro, na dinâmica do tempo – e o texto O existencialismo é um Humanismo, de Jean Paul Sartre, que versa sobre as mesmas questões suscitadas em Lins, porém em linguagem filosófica, tratando do Ser-para-si, da liberdade e do outro. Ressaltaremos, ainda, como os elementos composicionais na obra de Osman Lins extrapolam a tessitura tradicional das narrativas naturalistas e realistas, ao evidenciar a realidade da linguagem na trama poética. Em razão da própria construção da narrativa, um enredo aparentemente simples se expande, convocando o leitor a fazer o percurso sobre o sentido das questões que o texto evoca, e que compõe o complexo horizonte poético de Lins.

Palavras-chave: Osman Lins. Ser-para-si. Outro. Liberdade. Tempo.



COMUNICAÇÃO 4


A MARCHA TRÁGICA DO HOMEM PELA EXISTÊNCIA:
“PENTÁGONO DE HAHN”, DE OSMAN LINS

Andréa Jamilly Rodrigues LEITÃO (UFPA)[4]

RESUMO
“Pentágono de Hahn” é a terceira das nove narrativas que compõem a obra Nove, novena (1966), do escritor pernambucano Osman Lins. Esta obra moderna e vanguardista rompe com o modo tradicional de narrar, apresentando um alto grau de experimentalismo que se manifesta na dissolução da linearidade, na temporalidade em crise, na tendência ao apagamento do narrador, no uso de símbolos gráficos para representar personagens, na presença de monólogos interiores, no questionamento do ato da escrita.
     A narrativa centra-se na elefanta Hahn, que estabelece um elo sagrado e originário entre cinco personagens, cujas experiências existenciais estão intrinsecamente interligadas pelo animal: o celibatário, a criança e seu papagaio, a senhora idosa, a jovem e seu amor incompreendido, o homem e suas lembranças. O entrelaçamento das cinco personagens em torno do animal faz aparecer, assim, a figura geométrica de um pentágono. Cada personagem, identificada pelo seu respectivo símbolo, assume a voz narrativa em primeira pessoa, meditando sobre acontecimentos de suas vidas, que giram em torno da chegada de Hahn com o circo à cidade.
Na comunicação, propomo-nos a acompanhar como a narrativa figura a marcha trágica pela existência, em que o homem, livre e irremediavelmente entregue ao mundo e suas questões, depara-se com a finitude e com a sua condição fatal de estar entre as coisas, a elas tendo de conferir sentido, em meio a contradições: o celibato e a realização amorosa plena; o mundo infantil e o mundo adulto; a pressão social e o desabrochar do amor independente da idade; a recordação do passado e a exigência imediata do presente.
Acompanharemos, também, como a narrativa “Pentágono de Hahn” realiza uma vasta reflexão acerca da própria prática da escrita enquanto (des)velar de sentidos, uma vez que a potencialidade criadora da linguagem impulsiona vitalmente a revelação e a transfiguração de realidades.

Palavras-chave: Trágico. Modernidade literária. Osman Lins. Nove, novena.



COMUNICAÇÃO 5


“UM PONTO NO CÍRCULO”:
A UNIDADE DA LINGUAGEM NA NARRATIVA DE OSMAN LINS

Mayara Lopes de LA-ROCQUE (UFPA)[5]


RESUMO

            Na narrativa “Um ponto no círculo”, da obra Nove, Novena (1966), de Osman Lins, abre-se um quadro de uma pintura ornamentada pelos ares do passado, de mulheres com seus longos cabelos, adereços e vestígios seiscentistas; de plantas, musgos e madeiras do século antigo, mas que ainda permeiam o corpo denso de uma pensão. Esta pensão é o cenário de um jogo amoroso entre um homem e uma mulher, personagens que não têm nomes, mas que são vivos em cores, em gestos e em fluxo de consciência, que, por sua vez, retomam, recorrentemente, as formas e as fulgurações do próprio acontecer existencial do texto.
            Em tom onírico, no texto o sentido do Real é questionado. Sabendo-se que este se mostra como uma Questão, sempre velando a sua realidade, em cada linha da narrativa ele pode ser refletido em vários ângulos de múltiplos espelhos de significados, nunca chegando a uma reflexão conceitual pronta e comedida. “Um ponto no círculo” escapa da forma unilinear da construção literária, e a própria linguagem do texto evoca espaços em que sonho e realidade estão entrelaçados, de tal modo que não se pode mais distingui-los.
            É nesse mesmo acontecer do Real que se expande um círculo entre as personagens e o acontecer do Tempo, que, em suas inúmeras configurações, se revela na força dos extremos: na Geometria e na Desordem, no Múltiplo e na Unidade, na força Feminina e Masculina, no Fluxo da Espiral e do Centro, encontrando, ainda assim, uma unidade existencial. Unidade esta que corresponde ao mesmo apelo em toda multiplicidade do acontecer-no-mundo: ao apelo do Silêncio, da Linguagem, da melodia do Real.
            Dentro dessa perspectiva, o que se pretende na comunicação não é chegar a uma definição, mas, sim, a um caminho da Linguagem na narrativa, em que se revela a integração do caráter ontológico da obra literária com a obra do próprio Ser que somos.

Palavras-chave: Tempo. Existência. Jogo Amoroso. Unidade. Linguagem.


[1]     Graduando do curso de Letras – Língua Inglesa, bolsista PIBIC/FAPESPA, pesquisador do Núcleo Interdisciplinar Kairós - Pensamento da Arte e da Linguagem, participante do Projeto de Pesquisa “O trágico na Modernidade Literária Brasileira”, coordenado pelo Prof. Dr. Antônio Máximo Ferraz, da Faculdade de Letras da UFPA. E-mail: hfdolzane@gmail.com
[2]              Curso de Letras, habilitação em Língua Portuguesa, pesquisadora do Núcleo Interdisciplinar Kairós – Pensamento da Arte e da Linguagem, participante do Projeto de Pesquisa “O trágico na modernidade literária brasileira”, coordenado pelo Prof. Dr. Antônio Máximo Ferraz, da Faculdade de Letras da UFPA.
[3]                                                                                Curso de Letras Habilitação em Língua Inglesa, bolsista de monitoria / PROEG, pesquisadora do Núcleo Interdisciplinar Kairós – Pensamento da Arte e da Linguagem, participante do Projeto de Pesquisa “O trágico na modernidade literária brasileira”, coordenado pelo Prof. Dr. Antônio Máximo Ferraz, da Faculdade de Letras da UFPA.
[4]              Curso de Letras – habilitação em Língua Portuguesa, bolsista PIBIC/UFPA, pesquisadora do Núcleo Interdisciplinar Kairós – Pensamento da Arte e da Linguagem, participante do Projeto de Pesquisa “O trágico na modernidade literária brasileira”, coordenado pelo Prof. Dr. Antônio Máximo Ferraz, da Faculdade de Letras da UFPA.
[5]              Curso de Letras – habilitação em língua francesa, bolsista de monitoria / PROEG, pesquisadora do Núcleo Interdisciplinar Kairós – Pensamento da Arte e da Linguagem, participante do Projeto de Pesquisa “O trágico na modernidade literária brasileira”, coordenado pelo Prof. Dr. Antônio Máximo Ferraz, da Faculdade de Letras da UFPA.

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